“Tenham cuidado para que ninguém venha a
enredá-los com sua filosofia e vãs sutilezas”
(Colossenses
2.8)
A
Bíblia fala que os crentes em Cristo precisam ter cuidado para não serem
enganados. Com o advento da Teologia do Domínio em terras brasileiras e sua constante
presença nos púlpitos de várias igrejas evangélicas e também nas redes sociais
nos dias atuais, tornou-se comum, em período eleitoral, ouvirmos a frase:
“Irmão vota em irmão”. Como sabemos, essa teologia chegou em nosso país com o
objetivo de atrair e engajar a igreja evangélica à arena política, tendo em seu
bojo doutrinário a ideia de que a igreja deve dominar o mundo, conquistar poder
e, para isso, deve se engajar no mundo político. O texto bíblico fundamental que
os defensores dessa teologia usam está em Gênesis
1.27-28, extraindo dele uma interpretação equivocada e danosa à vida da
igreja evangélica. No entanto, algumas questões ficam no ar: O crente é
obrigado a votar em outro crente? Isso tem algum fundamento bíblico? Quem ganha
com isso? Neste post, mostramos três considerações relacionadas a esse
fato.
1. A
ideia de que “irmão vota em irmão” não é um mandamento bíblico, o que nos
mostra que a teologia do domínio está equivocada, já que o mundo em que estamos
inseridos – e aqui também nos referimos ao mundo político – é formado por seres
humanos ímpios e pecadores, sendo alguns deles tementes a Deus, com os quais
temos que conviver no nosso dia a dia. (cf.
1 Coríntios 5.10). Assim, considerando o que
diz a Palavra de Deus, não há nenhum mandamento que nos proíba de votarmos em
um candidato não crente. Neste caso, o voto ético, consciente, depositado em
favor de uma pessoa não crente que se propõe a governar para todos, em
benefício de todos, também é válido e aceitável dentro do contexto terreno em
que estamos inseridos como cidadãos. Essa ideia de que “irmão vota em irmão”,
portanto, não tem respaldo bíblico, sendo mais uma sutileza da Teologia do Domínio
para fazer de muitos crentes presas fáceis para atender os interesses
mesquinhos e egoístas de algumas pessoas que tentam tirar proveito da boa-fé do
povo evangélico.
2. A
ideia de que “irmão vota em irmão” fez surgir, no meio do povo de Deus, os falsos
irmãos - algo já previsto pela Palavra, conforme 2
Pedro 2.1 - que circulam entre as mais diferentes denominações
evangélicas, tendo acesso às suas lideranças, apenas com o intuito de cooptar o
voto dos crentes em benefício próprio. Muitos deles detém o título de “pastor”,
“bispo” ou “apóstolo”, são carismáticos, estão presentes nas redes sociais,
tendo um grande número de seguidores em seus perfis. No entanto, suas vidas são
marcadas pela ausência dos princípios bíblicos que devem reger a vida de todo
aquele que se propõe a seguir a Cristo. Como o que lhes interessa são os
benefícios oriundos do poder, a ganância e a avareza são características que
melhor traduzem seu interior (cf. Filipenses 3.18).
Não raro, estão envolvidos em escândalos que prejudicam a imagem da igreja
evangélica e a aceitação do evangelho por parte da sociedade. Em face disso,
portanto, o crente em Cristo não pode se vê constrangido ou obrigado a votar
num candidato apenas porque se diz “irmão” ou porque é indicado pelas
lideranças da igreja.
3. A
ideia de que “irmão vota em irmão” prejudica a liberdade dos irmãos em Cristo, fazendo
com que alguns deles se tornem uma presa fácil dos ideais da Teologia do Domínio.
Essa prática de dominar ideologicamente uma pessoa – neste caso, um irmão em
Cristo – era comum na igreja do primeiro século, razão por que encontramos a
advertência bíblica: “Tenham cuidado para que
ninguém venha a enredá-los com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a
tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Colossenses
2.8). Como ela, infelizmente, ainda é comum em nossos dias, alguns irmãos, por
constrangimento, se veem obrigados a votar de forma não voluntária naqueles
candidatos indicados por suas lideranças, tendo seu voto caracterizado com o
que na história recente de nosso país ficou conhecido como o “voto de
cabresto”. Essa prática, repugnante e reprovável, retorna à nossa realidade
contemporânea com uma roupagem religiosa e espiritual, saindo dos púlpitos de
várias igrejas – inclusive pentecostais e reformadas - revelando o abismo no
qual elas caíram por aceitar a Teologia do Domínio em seu meio. Nesse contexto,
tal qual acontecia no fato histórico acima mencionado, poucos são os
beneficiários do jogo político que ora se impõe à igreja evangélica brasileira.
Para ser mais preciso, apenas algumas lideranças e alguns políticos têm se
beneficiado desse sistema, em detrimento da sociedade como um todo. Logo, a
ideia de que “irmão vota em irmão” esconde interesses escusos que, aos poucos,
vamos conhecendo quando vêm à tona nos meios de comunicação.
Como
crentes em Cristo, não estamos obrigados a votar em um irmão apenas por ele ser
membro de uma igreja evangélica e ter a indicação de sua liderança. Pelo
contrário, o fato de sermos cidadãos terrenos, tendo que expressar a glória de
Deus no nosso dia a dia, nos faz pensar no voto com muita responsabilidade. O
voto ético, responsável, direcionado a quem pretende fazer política em
benefício de toda a sociedade, parece ser, portanto, o melhor caminho para
trilharmos neste mundo tenebroso que une a política à religião. A Bíblia ainda
fala!