“Mas você precisa saber disto: nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis”
(2 Timóteo 3. 1- 4).
Atualmente, no contexto político
brasileiro, política e religião têm caminhado lado a lado, de mãos dadas.
Contrariando o legado deixado pelos reformadores protestantes de que Estado e
Igreja devem caminhar separados, a igreja evangélica brasileira, enquanto
instituição, e por meio de algumas de suas lideranças mais notáveis do campo
midiático, tem participado ativamente da política partidária, impactando
negativamente a vida eclesiástica e a sua imagem perante a opinião pública.
Neste post, quero trazer uma reflexão que mostre como a igreja
evangélica brasileira tem sido subvertida pela política.
Inicialmente, vemos que o processo de
subversão que a política impõe à igreja tem atingido profundamente a vida das
suas lideranças. Não de todas, pois ainda há um remanescente fiel, visível aos
olhos de Deus, que não se dobra à política partidária nem por ela se deixa
corromper. Antigamente, tínhamos nos púlpitos pastores tidos como homens de
Deus, honrados, que pregavam a Palavra de Deus, santa e puramente, “dos quais o mundo não era digno”, como diz Hebreus 11.38. Atualmente,
no contexto brasileiro, temos pastores tidos como políticos, homens de negócio,
que pregam a palavra de Deus para agradar a sua clientela, dos quais a igreja
não é digna. São homens que, por fazerem parte da política partidária, ora
estão falando de Deus nos púlpitos, ora estão nas redes sociais disseminando
mentiras e calúnias contra pessoas que tem um posicionamento político diferente
do seu, como se fosse possível dissociar as identidades de pastor e político
que os acompanham. Em busca de seus interesses pessoais, esses pastores têm
usado politicamente a imagem da igreja em benefício próprio, tirando algum
proveito disso, seja se elegendo a um cargo político, seja elegendo um familiar seu a um cargo
político, ou mesmo indicando apoio a determinado grupo político para ter acesso
mais facilmente aos bastidores do poder em busca de seus interesses mesquinhos
e escusos. Entretanto, como era de se esperar, os escândalos envolvendo algumas
dessas lideranças estão vindo à tona[1], afetando diretamente a
igreja que, humilhada e subvertida, tem sua imagem afetada, sendo associada à
corrupção que sempre fez parte do mundo político.
Também constatamos que o processo de
subversão que a política impõe à igreja na atualidade tem atingido
profundamente a vida dos fiéis, trazendo prejuízo à sua fé e à comunhão uns dos
outros. Recentemente, um irmão atirou no outro dentro de uma igreja evangélica[2], em pleno culto, por
discordância política, conforme vimos nas principais mídias impressas e
televisivas. Além disso, constatamos o desconforto geral que há entre os irmãos
em época de campanha política: ter um posicionamento político diferente é
suficiente para colocar em segundo plano os laços de amor e comunhão espiritual
que devem caracterizar os seguidores de Cristo. Assim, o ódio, as intrigas, as
desconfianças, têm caracterizado as relações cristãs dentro de muitas igrejas
evangélicas.
Por último, é pertinente salientar que
esse processo de subversão a que a igreja evangélica está exposta tem
prejudicado fortemente seu desenvolvimento espiritual, pois o que nós presenciamos,
principalmente em época de campanha política, são cultos que mais parecem
comícios políticos, com pastores ora pedindo o voto dos fiéis em favor de seus
candidatos, ora ameaçando com exclusão do rol de membros aqueles que pensam de
forma contrárias aos interesses deles. Como se isso ainda fosse pouco, há casos
em que as lideranças colocam em dúvida a salvação de seus fiéis que têm um
posicionamento político diferente, como se ala fosse o resultado de uma ação
política, e não do sacrifício de Jesus na cruz do Calvário. Assim, a igreja
evangélica brasileira, salvo algumas exceções, caminha atrelada à política
partidária[3], amando o mundo e suas concupiscências (confira 1 João 2.15,16), e
construindo um projeto de poder que a faz se curvar e adorar ao Diabo – algo
que o Senhor recusou fazê-lo (Mateus 4.8,9). Em outras palavras, a igreja evangélica
caminha na contramão da vontade de Deus.
Portanto, resta à igreja evangélica
brasileira compreender que a sua missão não é fazer política partidária, mas
pregar o evangelho a toda criatura (Marcos 16.15), promovendo o reino de Deus
entre os seus fiéis e no mundo, de modo que os irmãos se sintam edificados e
glorifiquem a Deus, que nos “chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (1 Pedro 2.9)), e muitas vidas sejam
salvas pela pregação do evangelho para a glória de Deus. Amém. A Bíblia ainda
fala!
[1] Aqui eu faço referência aos escândalos de corrupção no MEC, envolvendo alguns pastores de várias denominações.
[2] Por questão de ética, preferimos omitir o nome da denominação e sua localização.